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Bandeiras

1924 – A Resposta Histórica

A história do Vasco da Gama é marcada por fatos que demonstram inegavelmente a disposição da agremiação vascaína, por intermédio dos seus dirigentes, associados e torcedores, para lutar contra males sociais que afligem a nossa sociedade, como o racismo, a homofobia e a transfobia. Está também gravado no espírito do Vasco da Gama o compromisso de combater as desigualdades sociais através de sua atuação no esporte e na sociedade. O lema “RESPEITO-IGUALDADE-INCLUSÃO” espelha um compromisso que não é apenas do Clube, mas de todos os vascaínos e vascaínas.

O Vasco da Gama foi fundado no dia 21 de agosto de 1898. Surgia, então, uma instituição luso-brasileira constituída por homens simples, a sua maioria portugueses e brasileiros do comércio do Rio de Janeiro, mas com o brio e a bravura necessários para levar a recém-criada agremiação à tão almejada grandeza esportiva. À época, o Vasco era uma nova agremiação náutica dentre outras já existentes, mas seus criadores possuíam o objetivo de que se tornasse um Gigante. Desde o seu surgimento, a agremiação vascaína tem sido uma coletividade onde se juntam, onde se congregam, pessoas de todas as origens, sob uma mesma bandeira e símbolos, à sombra de um mesmo ideal: a grandeza do Vasco.

No início do século XX, o Vasco da Gama tinha a maior parte dos seus atletas de remo oriundos das camadas populares, brasileiros e portugueses, em sua maioria empregados no comércio em postos de atendentes de balcão. De um modo geral, os sócios/atletas vascaínos eram enxergados pela elite dirigente da época como inaptos para a prática do esporte, por conta de sua origem e suas condições sociais. A evolução esportiva da agremiação vascaína, possível graças a participação desses “indesejáveis do remo” acolhidos pelo Vasco, incomodou aos poderosos. Porém, graças aos seus modestos e valorosos atletas, o C.R. Vasco da Gama conquistou, dentre outras glórias, o seu primeiro bicampeonato de remo da cidade do Rio de Janeiro (1905-1906). O Vasco alcançou inúmeras vitórias nesse esporte náutico e se tornou, ainda na segunda década do século passado, o clube mais vitorioso no remo da então capital do Brasil, sendo conhecido e reverenciado em todo país.

Em 1915, o Vasco da Gama adotou a prática do futebol. Os dirigentes vascaínos tinham como objetivo que o Clube fosse igualmente vitorioso nesse esporte, que havia suplantado a popularidade do remo. Novamente, o Vasco viria a conflitar com agremiações coirmãs para defender os excluídos da sociedade. No ano de 1923, o Vasco da Gama conquistou o seu primeiro título de Campeão Carioca. O Clube, com um time recheado de jogadores das camadas populares, os lendários Camisas Negras, conseguiu desbancar um a um os seus adversários. Realizando uma campanha espetacular, a equipe vascaína fez história ao conquistar pela primeira vez o campeonato com jogadores negros e brancos de baixa condição social, abalando a estrutura do racismo e do preconceito social existentes no futebol. De 1906 a 1922, não havia jogadores das camadas populares nas equipes que conquistaram o campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro.

A conquista do Campeonato de 1923 foi um marco esportivo para o futebol brasileiro e um divisor de águas na evolução do esporte em nosso país. Essa façanha vascaína revoltou àqueles que monopolizavam os títulos e que comandavam o futebol na Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), principal associação de agremiações que praticavam esse esporte na então maior metrópole do Brasil. Nos primeiros meses de 1924, em resposta à ousadia do Vasco da Gama em formar uma equipe que representava a diversidade do povo brasileiro, ocorreu uma cisão que resultou na criação de outra liga, a Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA). O Vasco foi convidado a participar dessa entidade e a princípio aceitaria entrar na nova liga. Porém, exigiram do Clube que excluísse 12 (doze) jogadores de suas equipes, 7 (sete) do primeiro quadro e 5 (cinco) do segundo quadro, pois, esses atletas estariam em desacordo com os “padrões morais” necessários para a prática do futebol. Nossos jogadores eram vistos como os “indesejáveis” do futebol.

Em resposta às exigências da AMEA, marcadas pelo racismo e o preconceito social, o então presidente vascaíno, José Augusto Prestes, emitiu um ofício comunicando que o Clube desistiria de fazer parte da nova liga, por não aceitar a exclusão de seus atletas e por “(…) não se conformar com o processo porque foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consórcios, investigação levada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa”; (Ofício CRVG nº261, 07 de abril de 1924). A “Resposta Histórica” demarca uma postura institucional inequívoca do Vasco da Gama alinhada com as camadas populares e na defesa de um futebol democrático, sem preconceito racial/étnico e social.

A sequência dessa luta do Vasco por um futebol democrático foi a construção do estádio do Clube, uma demonstração incontestável da força desse colosso do esporte mundial, que mesmo possuindo um grande número de torcedores e já tendo sido campeão no Rio de Janeiro, era visto pelos rivais como um clube de menor importância, por não possuir uma arena esportiva. O Estádio de São Januário, inaugurado em 1927, foi construído com as lágrimas, o suor e o dinheiro dos vascaínos. Um verdadeiro templo do povo, que à época de sua inauguração era o maior estádio da América do Sul, com capacidade para 40.000 espectadores. O estádio do Cruzmaltino é uma obra monumental, que assim como a “Resposta Histórica”, materializa a conduta da agremiação vascaína de ficar ao lado dos seus atletas, enfrentando o racismo e o preconceito social. A realização desse grande feito, um marco para o esporte do Brasil, não seria possível sem a união da imensa colônia portuguesa do Rio de Janeiro com os milhões de brasileiros que aderiram ao Vasco da Gama em todo o país.

Na contemporaneidade, o Vasco da Gama tem a sua história como a principal fonte de inspiração para tomar decisões e promover ações que ratifiquem o Clube como um agente engajado em pautas sociais importantes, em especial, o combate ao racismo, a homofobia e a transfobia e em prol da inclusão social. A agremiação vascaína busca destacar-se no combate às desigualdades sociais através de ações afirmativas, da denúncia e do enfrentamento a qualquer forma de preconceito. Recentemente, o C.R. Vasco da Gama apresentou à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) suas melhores práticas no combate a todas as formas de preconceito e uma proposta para a implantação de regras de punição desportiva em casos de racismo nos estádios, que foi acatada pela entidade nacional no início do corrente ano. Além disso, o Vasco da Gama tem orgulho de ser utilizado como caso de sucesso nas campanhas da FIFA de combate ao racismo no futebol mundial.


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Cruz de Malta

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